sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nunca vi

"Nunca vi dois pinheiros rivais.
Nunca vi um salgueiro
Vender a sua sombra para a terra.
Um carvalho oferece alegremente
Seus galhos para o corvo.
Onde quer que haja uma folha,
em mim, floresce a paixão."
- Sohrab Sepehri (1928-1980)

Venha, quem quer que seja

"Venha, quem quer que seja.
Infiel, idólatra, adorador do fogo, venha.
Nosso caminho não é o do desespero.
Mesmo que tenha quebrado seus votos
uma centena de vezes, venha. Venha novamente."
- Rumi (1207-1273)

Em você, sem você

"Venha, varra a câmara do seu coração,
prepare-a para ser o lar do Amado.
Somente quando seu amor egoísta tiver ido embora
o Amado entrará.

Em você, sem você,
Ele apresentará suas maravilhas para todos verem."
- Mahmud Shabistari (1288-1340)

Poemas breves geralmente são assim, explosivos e muito significativos. Tenho a impressão que o ato de concentrar em poucas palavras o que poderia ser expresso em muitas e muitas linhas produz esse 'big bang', essa explosão de significação poética.

A verdadeira humildade de sentimentos é perceptível no trecho [o Amado entrará] 'Em você, sem você'. Normalmente para receber uma visita ilustre (um padre, uma autoridade, alguém influente, etc) preparamos a casa tendo em vista estar junto ao visitante para desfrutrar da companhia e de bons momentos. No entanto o Sr. Mahmud mostra que quando se tratando Do Amado (Deus) o sentimento genuíno é ainda mais reverencioso e pleno de humildade. Como um servo, prepara tudo com perfeição para que O Amado venha e desfrute do banquete que lhe é oferecido, mas respeitosamente se retira (algo como o 'não sou digno que entreis em minha morada' bíblico). Preparar algo para o próprio deleite é algo humano. Preparar algo para o deleite exclusivamente de outro é superior, é divino.

'Em você, sem você' também revela o processo de morte, transformação e renascimento. Na medida em que me liberto do meu amor egoísta, deixo de ser eu mesmo e passo a ser algo diferente. Morte e renascimento simultâneo. Existe uma esperança para que pelo menos este eu esteja presente para dar as boas vindas Ao Amado e serví-Lo diretamente.

Iniciando

Tenho afinidade com a cultura iraniana (e árabe de um modo geral), um dos meus divertimentos nas horas vagas é traduzir para o português poemas de autores iranianos e árabes, é um exercício interessante que possibilita uma intimidade e um contato muito mais profundo com o lirismo dos autores. Assim, estou criando este blog para reunir num lugar próprio essas pérolas que tenho tido a permissão de encontrar.

Gosto especialmente da cultura iraniana/persa. Trata-se de um país com uma cultura riquíssima e muito elaborada mas que muitas vezes fica oculta ao olhar desatento devido ao grosso véu autoritário/fundamentalista que existe lá.

Finalizando essa brevíssima e sumária introdução faço votos para que possa ter bons momentos por aqui. Sinta-se bem vindo!